A Lógica de Hegel é, em primeiro lugar, uma metafísica. Mas o que vem a ser metafísica? Uma teoria da totalidade.
Em Aristóteles1, uma teoria de totalidade enquanto filosofia primeira, em contraste com as filosofias segundas que tratam apenas de segmentos ou recortes do todo. Nos medievais, este discurso sobre a totalidade ganhará significado próprio, ao envolver uma teoria do que está além do mundo físico, uma teoria do Deus transcendente que é a origem de tudo.
Em Hegel, a metafísica não deixa de ser uma teoria de Deus ou do absoluto, uma teologia, portanto, mas não mais como uma teoria da transcendência no sentido medieval, e mais importante, ao menos em sua pretensão, não mais como uma abordagem dogmática.
A nova metafísica nasce de uma atitude crítica. Em Descartes, o pensamento sobre a totalidade é mediado pela mais radical das dúvidas, a duvida que, duvidando de si mesma, se dissolve e supostamente faz emergir o pensamento na pura certeza de si, o cogito ergo sum. Já em Kant, a Metafísica precisa ser precedida por uma propedêutica crítica, uma epistemologia que desvenda os supostos limites da razão.
Há resquícios desta abordagem kantiana, como veremos, no modo como Hegel concebeu inicialmente a sua Fenomenologia do Espírito e sua posição no todo do sistema, precedendo a Lógica. Mas é a via cartesiano-fichtiana que prevalecerá no Hegel maduro: a criticidade emanando de um método de dúvida radical, de crítica da razão pela própria razão, uma dúvida instaurada pelo momento negativo-racional do conceito, a estrutura do sistema hegeliano.
Embora constituindo-se prioritariamente, ao menos a nossos olhos, como uma metafísica, a Lógica de Hegel também é, claro, uma lógica, embora de tipo peculiar, uma espécie de metalógica.
O título inusual da obra de Aristóteles veio da alocação das obras compiladas por Andrônico de Rodes: o livro que vem depois da física (ta meta ta physica).